Em entrevista sobre o crescimento de agressões, Natália Ferreira destaca rede de proteção local e incentiva denúncias anônimas via Disque 181; dados de 2025 confirmam 4 feminicídios por dia no Brasil
Canaã dos Carajás (PA) – A Lei Maria da Penha completou 19 anos em agosto de 2025, e o Brasil registrou um ano de intensas mobilizações contra a violência de gênero. Em Canaã dos Carajás, no sudeste paraense, a delegada titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), Natália Ferreira, disse que a preocupações nacionais: o avanço profissional das mulheres – com 36% em cargos de gestão – está ligado a um aumento na perseguição e nos assassinatos.
“Quanto mais a mulher evolui, mais ela é perseguida, assassinada, agredida”, afirmou a delegada, reforçando que o Brasil registra, em média, quatro feminicídios por dia em 2025, conforme o Mapa da Violência de Gênero do Senado e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Dados atualizados até novembro de 2025 mostram 1.180 casos de feminicídio no ano, um aumento de 12% em relação a 2024, com a maioria das vítimas sendo mulheres negras jovens, mortas por parceiros ou ex-parceiros.
A violência como problema global e estrutural
Natália Ferreira descreveu a violência contra as mulheres como uma “situação endêmica e pandêmica, reconhecida pela ONU como um problema mundial”. De fato, relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da ONU Mulheres confirmam: uma em cada três mulheres no mundo sofre violência física ou sexual ao longo da vida, agravada pela pandemia de Covid-19 e pelo machismo patriarcal. “É decorrência das estruturas de poder e dominação masculina sobre os corpos das mulheres”, explicou a delegada, citando que mudanças na lei, como penas mais rigorosas, ainda não erradicaram o problema.
No Brasil, o Atlas da Violência 2025 aponta que homicídios contra mulheres cresceram 2,5% entre 2023 e 2024, contrariando a queda geral de crimes violentos. O Mapa Nacional da Violência de Gênero registra 718 feminicídios no primeiro semestre de 2025, com São Paulo liderando em números absolutos (cerca de 100 casos). A subnotificação é grave: estudos estimam que 40% das mortes violentas de mulheres não são classificadas como feminicídios, especialmente em periferias e áreas rurais como o Pará.
O “macho ferido” e o papel dos homens na solução
Referenciando a ideia filosófica de que a violência surge de um “macho ferido” – um homem que reage à perda de controle com agressão –, Natália enfatizou: “O homem é o autor principal dessa violência e precisa ser chamado ao centro da luta”. A Lei Maria da Penha prevê centros reflexivos para agressores, mas muitos dispositivos da lei não são implementados por falta de investimento. “Precisamos de políticas públicas desde a infância, educando meninos para a igualdade de gênero. Historicamente, eles crescem com símbolos de dominação: helicópteros e cargos de poder, enquanto meninas recebem bonecas e vassouras.”
Manifestações recentes no Brasil, como as de novembro de 2025 em 20 estados, chamaram homens para marchar ao lado das mulheres, promovendo uma “educação afetiva” que aceite o “não” sem ressentimento. A delegada defendeu: “Uma relação saudável não é de dominação. O homem deve ver a mulher como igual, não como objeto.”
Avanço profissional das mulheres: 36% em gestão, mas com retrocessos na violência
O texto menciona um crescimento de 36% na evolução profissional das mulheres, com foco em gestoras de governos e empresas. Dados do IBGE e do LinkedIn para 2025 confirmam tendências próximas: mulheres ocupam 39,2% dos cargos gerenciais no Brasil, um avanço de 3% em relação a 2022, e 42% dos cargos comissionados na administração federal. No setor privado, 32% das posições de gerência são femininas, e o número de CEOs mulheres dobrou nos últimos cinco anos. No governo federal, 45,6% dos servidores são mulheres, com 76% dos novos cargos de direção criados em 2023-2025 ocupados por elas.
No entanto, esse empoderamento correlaciona-se com o aumento da violência: o FBSP registra crescimento de 19% nas tentativas de feminicídio e 10,8% no descumprimento de medidas protetivas em 2024-2025. “Os números não mentem: o avanço das mulheres ameaça estruturas patriarcais, gerando backlash”, analisou Natália.
Canaã dos Carajás: rede de proteção em ação, mas desafios persistem
Em Canaã, a delegada destacou a rede integrada de proteção: o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), a DEAM, casas de abrigo, fóruns e defensorias. “Temos êxito em encorajar denúncias. Os números não crescem, mas vêm à tona – violência que sempre existiu, mas agora é visível graças à mídia e aos serviços.”
Buscas atualizadas em fontes oficiais e redes sociais confirmam: em 2025, a DEAM de Canaã prendeu agressores por lesão corporal grave, ameaças, violência psicológica e divulgação de conteúdo íntimo (ex.: casos em abril e maio). O município, via Secretaria da Mulher e Juventude (SEMMJU), investe em acolhimento, com visitas domiciliares e orientação. Um seminário em março de 2024 (com dados estendidos a 2025) posicionou Canaã como “exemplo de cidade segura”, mas Natália alerta: “A denúncia é chave. Violência começa no controle, não no tapa.”
Mensagem final: União para acabar com o ciclo
Para homens: “Sejam atores de mudança. Uma relação saudável aceita o ‘não’ e promove igualdade.” Para mulheres: “Não aceitem subordinação. A rede está pronta: venham à DEAM, usem a delegacia virtual ou o Disque 180.” Para todos: “Denunciem anonimamente pelo Disque 181 da Polícia Civil. Sozinhos, não acabamos com isso – é união de imprensa, vizinhos e famílias.”
Os 19 anos da Lei Maria da Penha reforçam: é uma das melhores leis do mundo, mas precisa de implementação plena. Em Canaã e no Brasil, o caminho é educação, investimento e empatia para romper o ciclo patriarcal.






